Sempre gostei de histórias infantis, por
acreditar que elas carregam mensagens importantes, que devemos levar por toda a
vida. Por esse motivo, fiquei imediatamente curiosa desde que a Galera Record
anunciou o lançamento de A garota que
bebeu a lua, da autora Kelly Barnhill. Além de uma capa maravilhosa, o
enredo apresenta uma história lúdica, mas cheia de significado e reflexões.
Acompanhando a jornada de uma menina que,
ainda bebê, foi alimentada com a luz da lua por uma bruxa, A garota que bebeu a lua é um livro sobre amadurecimento, opressão,
amor e a importância de superar as tristezas para seguir em frente. É um livro
infantil, mas que traz lições para os adultos também.
Autora: Kelly Barnhill
Editora: Galera Record
Tradução: Natalie Gerhardt
Páginas: 308
Onde comprar: Amazon
Exemplar recebido em parceria com a
editora
Sinopse: “Todo ano o povo do Protetorado deixa um bebê como oferenda para a Bruxa que vive na floresta, na esperança de que o sacrifício a impeça de aterrorizar sua pequena cidade protegida pelos muros e pela Torre das Irmãs da Guarda. Mas, Xan, a Bruxa na floresta, ao contrário do que eles acreditam, é bondosa. Ela vive em paz com um Monstro do Pântano muito inteligente e um Dragão Perfeitamente Minúsculo. Todo ano ela resgata o bebê deixado pelos Anciãos e o leva em segurança para uma família adotiva em uma das Cidades Livres do outro lado da floresta. Durante a longa viagem, quando a comida acaba, Xan alimenta os bebês com luz estelar. Em uma dessas ocasiões ela acidentalmente oferece a um deles a luz do luar, dotando a menininha de uma magia extraordinária. A bruxa então decide criar a menina “embruxada”, a quem chama de Luna. Conforme o aniversário de treze anos da menina se aproxima, sua magia começa a aflorar – e pode colocar em perigo a própria Luna e todos à sua volta.”
Em A garota que bebeu a
lua, é apresentado um universo lúdico, mas carregado de sofrimento e opressão.
Todo ano, o povo do protetorado precisa deixar o bebê mais jovem da aldeia na
floresta para ser entregue à Bruxa, a fim de evitar que ela destrua a cidade.
As famílias que perdem seus bebês sofrem pelo sacrifício feito, já as outras
vivem aterrorizadas pela possibilidade de um dia serem elas a terem um filho
levado.
“Deixaria a menina ali sabendo que certamente não existia bruxa alguma. Nunca existira uma bruxa. Havia apenas a floresta perigosa e uma única estrada e um controle tênue de uma vida da qual os Anciãos gozaram por gerações. A Bruxa – ou melhor, a crença de que ela existia – tornou o povo aterrorizado e subjugado, um povo submisso, que vivia a vida em um nevoeiro de tristeza, e as nuvens de sua tristeza adormeciam seus sentidos e encharcavam suas mentes. Era terrivelmente conveniente para um governo livre desimpedido dos Anciãos.”
O que eles não imaginavam
é que a Bruxa realmente existia, mas, na verdade, era boa e não entendia o
motivo de abandonarem todo ano um bebê. Ela carregava as crianças e
entregava para boas famílias que viviam nas Cidades Livres, do outro lado da
Floresta. No caminho, quando o alimento acabava, ela alimentava as crianças com
luz das estrelas. Porém, um dia ela se distrai e, acidentalmente, alimenta uma
bebê com luz da lua, o que confere à menininha uma magia extraordinária. A
Bruxa não poderia entregar uma criança com tal magia para viver entre os
humanos, por isso, passa a criá-la como se fosse sua neta.
No entanto, as pessoas no
Protetorado não sabiam de nada disso e continuavam chorando pela perda de suas
crianças. Até que um jovem decide pôr fim a esse sacrifício e caçar a
Bruxa. Mas será que a verdadeira maldade vivia na floresta ou estava escondida
dentro dos muros do Protetorado?
A Garota que bebeu a lua foi um livro que
me deixou com sentimentos conflituosos. Por um lado, gostei muito das reflexões
que a autora trouxe ao longo da trama. Por outro, o desenvolvimento da história é
muito lento e, em alguns momentos, repetitivo. Com isso, a leitura acabou se
mostrando um pouco maçante e não me cativou como eu esperava.
“Assim como o universo é infinito. É luz e escuridão em movimentos eternos; é espaço e tempo, e tempo dentro do espaço. E ela soube: não há limites para o que um coração consegue carregar.”
O primeiro ponto que me incomodou foi a
construção dos personagens. O fato de estarem divididos em tantos núcleos
diferentes fez com que a jornada deles ficasse um pouco truncada e eu sentisse
mais dificuldade para me apegar a eles. A história vai se intercalando entre
Luna sendo criada pela bruxa Xan, com a ajuda do monstro Glerk e do dragão
minúsculo (que pensa ser imenso), Fyrian; a mulher que vive trancada na Torre
após ter enlouquecido pela perda da filha; o jovem Antain lidando com seus
conflitos desde que presenciou uma bebê sendo retirada da mãe e abandonada na
floresta; e os Anciãos e as Irmãs da Guarda manipulando a vida das pessoas do
Protetorado. Com tantos núcleos separados e o foco mudando constantemente, senti
que nenhum foi suficientemente aprofundado.
Além disso, confesso que faltou uma boa
dose de carisma para a maioria dos personagens, especialmente a protagonista,
Luna. Quando aparece criança, Luna é uma menina inquieta, desobediente e um
tanto egoísta. Depois que fica um pouco maior, seu comportamento se torna um
pouco mais compreensível, mas continua sendo uma personagem sem graça e que, ao
longo do livro, me incomodou mais do que agradou. Porém, preciso destacar que
adorei a bruxa Xan, o Glerk e o Fyrian, personagens que proporcionaram alguns
dos momentos mais divertidos e cativantes da história.
Com relação à trama, eu achei o enredo original e complexo. Gostei muito da proposta da autora, que traz
reflexões importantes em uma história aparentemente simples. Através da jornada
de cada um dos personagens, são trabalhados temas importantes como a perda, o
amadurecimento, a necessidade de lidar com a tristeza, a fé e, principalmente,
a opressão e o controle social.
“Uma história podia contar a verdade, ela sabia, mas uma história também podia contar uma mentira. As histórias podiam ser dobradas e retorcidas e obscurecidas. Quem poderia se beneficiar de tal poder?”
No entanto, apesar de ter gostado muito
das reflexões que são feitas ao longo do livro, achei que o desenvolvimento da
trama deixou muito a desejar. O ritmo é muito lento, com boa parte do livro se passando sem grandes acontecimentos, e a história acaba se
tornando repetitiva. Apenas da metade para o final, a leitura se torna mais
interessante, com acontecimentos importantes dando mais dinamismo para a trama.
A escrita de Kelly Darnhill é bastante
poética e sensível, fazendo com que alguns momentos do livro fossem muito
bonitos. Porém, achei que o excesso de descrições deixou a leitura cansativa e
repetitiva. Além disso, há momentos que considerei muito confusos,
especialmente capítulos que eram intercalados com a trama e que eu não entendi
muito bem sua relevância ou o que a autora quis dizer com eles.
De um modo geral, A garota que bebeu a lua
foi uma leitura que me surpreendeu pelos temas abordados e pelas reflexões que
proporciona. Apesar de ser um livro infantil, ele traz mensagens muito
importantes e que acredito serem dirigidas muito mais aos adultos do que às
crianças. Com isso, mesmo que a forma como a trama foi desenvolvida tenha deixado
a leitura bastante cansativa, ainda recomendo o livro por sua mensagem e por
todas as lições que ele deixa. Apesar de não me encantado como eu esperava, me deixou reflexões que fizeram a leitura
valer a pena.