Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Páginas: 366
“Na minha opinião, todo mundo tem seu milagre. Por
exemplo, muito provavelmente eu nunca vou ser atingido por um raio, nem ganhar
um prêmio Nobel, nem ter um câncer terminal de ouvido. Mas, se você levar em
conta todos os elementos improváveis, é possível que pelo menos um deles vá
acontecer a cada um de nós. Eu poderia ter presenciado uma chuva de sapos.
Poderia ter pisado em Marte. Poderia ter me casado com a rainha da Inglaterra
ou ter sobrevivido meses à deriva no mar. Mas meu milagre foi diferente. Meu
milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados da Flórida, eu
era vizinho de Margo Roth Spiegelman” (Cidades de Papel, de John Grenn, página
11)
É assim que começa Cidades de Papel, um livro com uma história bem simples, mas que
mexeu bastante comigo. Escrito pelo autor americano John Green (o mesmo de A
Culpa é das Estrelas), este livro é narrado sob o ponto de vista de Quentin
Jacobsen, um adolescente que nutre um amor platônico pela sua vizinha, Margo.
Eles haviam sido amigos na infância, mas à medida que cresceram foram se
afastando. No entanto, em uma noite ela aparece na janela dele e o convida para
uma aventura.
Obviamente, Quentin (ou Q, como ele prefere) aceita o
convite. O que ele não esperava era que no dia seguinte ela iria desaparecer.
No entanto, ele encontra pistas que podem levar ao paradeiro dela e, a partir
daí, parte com alguns amigos em busca da menina que tanto o fascinava. O que
Q não esperava era que quanto mais próximo ficava de encontrar Margo, mais
distante ela ficava da imagem que ele tinha sobre ela.
Esse livro me conquistou por vários motivos. O
primeiro deles foi a sua trama leve e gostosa de ler. Tem humor, aventura, um
pouco de mistério e, claro, romance. Mas todos esses elementos são escritos de
uma maneira realista. Os jovens descritos ali parecem adolescentes comuns,
vivendo situações comuns, pessoas que poderíamos conhecer em qualquer lugar, o
que deixa a história mais verdadeira e interessante.
Outro aspecto que gostei muito foi a maneira como os
personagens crescem ao longo da trama. Inicialmente eles são um pouco planos,
sem características que os tornem particularmente interessantes. Mas, à medida
que história avança, o leitor começa a entendê-los melhor e perceber que eles
enfrentam dilemas mais complexos do que se supunha no começo.
Nesse sentido, preciso destacar os dois protagonistas, Quentin e Margo. Aparentemente, ele é um adolescente sem nenhuma característica em
particular que o destaque e que nutre uma paixão platônica por sua vizinha, por
quem faria qualquer coisa. O que se percebe ao longo da história é que ele é um
menino sensível, sonhador, mas também corajoso e leal aos amigos. Apesar de sua
fascinação por Margo, Quentin tem sensibilidade suficiente para entender quem
ela era por trás da imagem idealizada que ele tinha feito dela, além de uma
personalidade forte para saber o que realmente quer para a própria vida.
Com relação à Margo, achei a personagem mais
interessante da trama. No início, ela parecia uma menina popular, um pouco
enfastiada com a própria vida. Porém, na noite em que ela sai com Q para uma aventura,
essa imagem começa a ser alterada. O que se vê é uma menina descrente com a sua
vida e com as pessoas que a cercam, especialmente os pais, com quem tem uma
relação difícil. Mas é somente durante a jornada de Q para encontrá-la, que é
possível entender completamente a Margo, com suas dúvidas e suas expectativas.
“É uma cidade de papel. [...] Todas aquelas
pessoas vivendo suas vidas de papel em suas casas de papel, queimando o futuro
para se manterem aquecidas. [...] Todos idiotizados com a obsessão de possuir
coisas. Todas as coisas finas e frágeis como papel. E todas as pessoas também”
(Margo, em Cidades de Papel, p. 68)
Ao longo do livro, são feitas reflexões interessantes,
que levam o leitor a questionar seu modo de olhar para a vida e, especialmente,
para as outras pessoas. E foi justamente essas observações que o livro me
trouxe o que mais me fascinou nessa história, confirmando a admiração que sinto por John Green desde A Culpa é das
Estrelas.