Autora: Lois Lowry
Editora: Arqueiro
Páginas: 224
As distopias estão na moda, tanto na literatura quanto
no cinema. No entanto, esta não é uma ideia recente. A minha dica de hoje é uma
prova disso. Publicado em 1994, o livro O Doador de Memórias, da escritora Lois
Lowry, apresenta uma sociedade que aparentemente é utópica, mas, na verdade, se
trata de um futuro pós-apocalíptico.
Neste universo que parece ser ideal, não existe
sofrimento, dor, guerra ou desigualdade. As pessoas são totalmente conformadas
com suas vidas e com a função que desempenham. No entanto, também não há
emoções verdadeiras, nem sentimentos como amor e alegria. Além disso, apenas o
presente é conhecido. O passado é ignorado por quase todos, exceto o Doador.
Ele é encarregado de guardar todas as memórias do mundo, a fim de poupar as
outras pessoas do sofrimento, mas manter a sabedoria para conduzir a sociedade
em momentos difíceis.
Aos doze anos, todas as crianças são designadas para a
profissão que deverão exercer. Jonas, o protagonista da história, é o escolhido
para ser o próximo guardião. Ele passa a ser
orientado, então, pelo Doador atual para a nova função. No entanto, a medida que vai
seguindo com seu treinamento, Jonas conhece a realidade sobre aquele o mundo e percebe como o
modo de vida daquela sociedade aparentemente perfeita era cruel e opressor.
Comparado com outras distopias, como Jogos Vorazes e
Divergente, o universo criado por Lois Lowry parece ser mais simples.
Inicialmente, não há desigualdade, nem um governo opressor e as pessoas não são
divididas em facções. Aquela parece ser uma sociedade pacífica e sem problemas.
No entanto, é justamente na simplicidade deste mundo retratado que são feitas
importantes reflexões.
Como classificar aquele universo como um modelo de
vida ideal, se as pessoas são privadas de suas emoções? É justificável, para
manter a ordem e a paz na sociedade, privar as pessoas do que as torna humanas?
É possível dizer que esse é um mundo mais justo se as pessoas são privadas de
sua liberdade de sonhar, de sentir e de pensar por conta própria? Foram essas
questões que mais me cativaram ao ler este livro.
Outra coisa que gostei é o fato de ser
narrado em terceira pessoa. Tem sido cada vez mais comum o uso de
narrador-personagem para contar uma história. Porém, em muitos casos, isso me
incomoda por limitar o desenvolvimento dos demais personagens e do universo em
que a trama se situa. Assim, o modo como O Doador de Memórias é narrado me
agradou muito, pois deu uma visão mais completa da história, sem ficar limitado à visão do protagonista.
A história começa em um ritmo mais lento, mas se torna
mais dinâmica à medida que o treinamento de Jonas avança e ele começa a
questionar aquela realidade. Gostei da escrita de Lois Lowry, especialmente o
modo como o leitor vai conhecendo a realidade daquela sociedade junto com Jonas, à medida que ele avança em seu treinamento. E é a partir das descobertas dele sobre o passado, que começam os questionamentos sobre a “perfeição” daquele modo de vida. Assim, fica fácil para compreender a decepção e a angústia do garoto.
Com um desfecho totalmente envolvente, O Doador de
Memórias deixa o leitor ansioso por sua continuação. Felizmente, o segundo livro
da série, A Escolhida, já está disponível no Brasil desde 2014, também publicado
pela Editora Arqueiro.
Sem emoções, sem afetos, sem amigos!
ResponderExcluirLuiz Gondim