Olá, pessoal! Hoje eu vim trazer uma
resenha um pouco diferente, porque vou falar sobre um livro que me deixou
completamente dividida: Graça e Fúria, da Tracy Banghart. Lançado no passado
pela Editora Seguinte, Graça e Fúria entrou na minha lista de desejados desde
que foi anunciado. E, depois de meses de ansiedade, eu finalmente consegui ler
no começo do mês.
No entanto, foi uma leitura que despertou
tantos sentimentos em mim que até demorei um pouco para colocar os pensamentos
em ordem e tentar passar a minha opinião para vocês. Mas, passados alguns dias,
vou finalmente contar o que achei e minhas expectativas para a continuação. Mas
não se preocupem que, como todas as resenhas aqui do blog, não haverá spoiler.
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte
Tradução: Isadora Prospero
Páginas: 304
Onde comprar: Amazon
Exemplar recebido de cortesia da editora
Sinopse: “Duas irmãs lutam para mudar o próprio destino no primeiro volume de uma série de fantasia repleta de romance, ação e intrigas políticas. Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças ― jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro. Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real ― mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes. Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram ― e farão de tudo para se reencontrar.”
Em Graça e Fúria, somos apresentados a um
reino onde as mulheres não têm muitos direitos ou voz. Ela têm sempre três
opções: casar, trabalhar como operárias ou aias, ou se tornar uma graça. As
graças eram mulheres escolhidas pelo superior, o governante do reino de
Viridia, para servirem a ele, mais ou menos como em um harém. A cada três anos,
mais três mulheres eram escolhidas por ele.
“As mulheres não podiam ler. Não podiam escolher seus maridos, empregos, futuros. Não podiam mergulhar em busca de pérolas ou vender produtos para ajudar a família. Não podia cortar o cabelo sem que um homem ordenasse. Não podiam pensar por si mesmas. Não podiam escolher. Mas por quê?”
Nesse contexto, conhecemos Serina e Nomi,
duas irmãs que, apesar de unidas, não poderiam ser mais diferentes. Serina é a
mais velha e, desde pequena, chamava atenção por sua beleza, o que levou sua
mãe a treiná-la para se tornar uma graça. Assim, ela teve lições de boas
maneiras, etiqueta e dança, e, principalmente, aprendeu a não questionar e se
mostrar sempre doce e submissa. Por outro lado, Nomi tinha uma aparência mais
comum e não poderia se importar menos. Ela é uma pessoa extremamente questionadora
e não se conformava com a falta de liberdade que as mulheres tinham. Tanto que
acabou convencendo seu irmão gêmeo, Renzo, a ensiná-la a ler e escrever, algo
que era totalmente proibido para as mulheres.
Quando foi anunciado que, ao invés do
superior, seu filho mais velho escolheria suas três primeiras graças, Serina
foi a escolhida para representar a cidade onde vivia. Assim, Nomi precisa
acompanhá-la para servir como sua acompanhante, deixando para trás seu irmão
gêmeo e o sonho de um dia escapar daquele lugar. O problema é que, ao contrário
do que se esperava, Nomi é a escolhida pelo herdeiro do superior e Serina se
torna a sua aia. Nenhuma das duas estava preparada para o papel que passariam a
desempenhar, porém, a situação se torna ainda pior quando Serina é flagrada com
um livro que Nomi havia roubado. Agora, Nomi acaba ficando sozinha em uma corte
que não estava preparada para enfrentar, enquanto sua irmã é enviada para uma
ilha onde as prisioneiras precisavam lutar por comida e pela própria
sobrevivência.
Quando eu li essa sinopse, já pensei em
uma história cheia de reviravoltas, intrigas e personagens femininas
empoderadas. De um modo geral, posso dizer que não me decepcionei. A trama é
bastante dinâmica e já prende a atenção do leitor desde o início. Além disso,
mesmo sendo o primeiro de uma trilogia, Graça e Fúria tem muita ação e
acontecimentos relevantes.
O universo apresentado pela autora é cruel
e, ao mesmo tempo, interessante pelas reflexões que levanta. No reino de
Virídia, as mulheres praticamente não tinham voz ou liberdade de escolhas. Elas
deviam aceitar trabalhos pesados ou se submeter a um casamento no qual deveriam
obedecer aos seus maridos. Além disso, não podiam aprender a ler e escrever e,
obviamente, não tinham nenhuma participação política. Assim, ao longo de todo o
livro são feitos questionamentos sobre a posição das mulheres naquela sociedade
e os reflexos do machismo e da tirania.
“– Em todas as histórias, as mulheres desistem de tudo. Nunca devemos lutar por nada. Por que acha que é assim? [...] – Porque todos têm medo do que aconteceria se resolvêssemos lutar.”
Outro aspecto interessante do livro é, sem
dúvida, ver a trajetória das irmãs Serina e Nomi. Inicialmente, Serina é
submissa e passiva, aceitando calada o sistema daquela sociedade e sem
questionar a falta de opção que as mulheres tinham. Por outro lado, Nomi é
questionadora e não se conforma com o destino que era reservado para ela e sua
irmã. Assim, seria fácil classificar Serina como tola e frágil, e Nomi como uma
pessoa mais sábia e corajosa. No entanto, as aparências engam e as duas acabam
surpreendendo.
Serina foi a minha favorita, porque ela
cresce muito na adversidade. Por mais que se mostre submissa inicialmente, não
dá para deixar de levar em consideração que ela foi criada para isso. No
entanto, quando é mandada para a prisão e precisa lutar por sua vida, Serina
descobre sua força e, pela primeira vez, se vê livre para pensar por conta
própria e questionar a crueldade daquela sociedade. Já a Nomi, por mais que se
mostre uma personagem questionadora desde o início, também é bastante ingênua e
sonhadora. Quando se vê em um ambiente desconhecido e cheio de intrigas, ela
acaba ficando perdida e tomando algumas decisões bastante equivocadas.
“Naquele instante, Serina fez sua escolha. Monte Ruína não podia ficar com ela. E com a certeza do fogo que devorara aquela ilha de dentro para fora, não deixaria o herdeiro ficar com Nomi. Ela escaparia. De alguma forma, escaparia. E salvaria a irmã.”
Com relação aos personagens secundários,
eles são interessantes, apesar de não terem sido tão aprofundados. Ao longo do
livro, eles vão desempenhando papéis muito importantes na trama e na jornada
das duas protagonistas. Mesmo que esses personagens não sejam tão
desenvolvidos, fica claro sua relevância na história e já foi possível perceber
que alguns deles ganharão destaque na continuação. Em especial, eu adorei
Malachi (o herdeiro do superior), as mulheres que Serina conheceu na prisão e
Val, um dos guardas da prisão.
No entanto, como eu mencionei no começo da
resenha, Graça e Fúria me deixou com sentimentos conflitantes. Por um lado, eu
adorei a trajetória da Serina e o quanto ela amadurece ao longo do livro. É
muito interessante ver essa personagem se transformando e se tornando muito
mais empoderada. No entanto, não posso deixar de mencionar que me decepcionei
com o caminho que a autora deu para Nomi. Eu gostei dessa personagem também,
mas a parte dela na trama é muito similar a um outro livro bem famoso (não vou
contar qual para não ser spoiler), inclusive com cenas muito parecidas, o que
fez com que o caminho dela fosse totalmente previsível para mim e o que deveria
ter sido a grande reviravolta, foi algo que eu já tinha previsto logo no
começo.
“Não é uma escolha quando você não tem liberdade de dizer não. Um ‘sim’ não tem nenhum valor quando você é a única resposta que se pode dar!”
Com relação a escrita da Tracy Banghart,
eu gostei por ter achado muito envolvente. Não dá vontade de lagar o livro e eu
acabei lendo em um dia. Além disso, ela consegue descrever bem o universo e os
personagens, sem tirar o ritmo da trama ou se exceder nas descrições. Se não
fosse ter sentido uma repetição de outro livro em uma parte do livro, eu
acredito que já estaria procurando outras obras dela para ler, porque sua
escrita realmente me prendeu.
Não posso deixar de mencionar também que, quanto à edição, a Editora Seguinte caprichou
mais uma vez. Adorei o fato do livro ter duas capas, mostrando uma irmã em cada
uma. Achei que isso faz todo o sentido, pois as tramas das irmãs são separadas
durante praticamente todo o livro. Além disso, as páginas são amareladas e a
fonte tem um tamanho excelente para leitura. Minha única ressalva é que senti
falta de um mapa que mostrasse Viridia e outro para a ilha onde Serina foi
enviada. Sempre defendo mapas em todos os livros de fantasia, mas nesse caso
acredito que teria ajudado muito.
De um modo geral, Graça e Fúria é um livro
envolvente e que apresenta um universo muito interessante. Poderia ter sido
mais original? Com certeza! Mas adorei as reflexões feitas a partir de uma
sociedade tão cruel e opressiva, e já estou ansiosa para ver esse sistema sendo
desafiado. Por esse motivo, mesmo terminando a leitura com sentimentos divididos,
estou muito curiosa para ler a continuação e espero que a autora leve a
história por caminhos que consigam me surpreender.